sábado, 17 de fevereiro de 2007

Perdão (poesia)

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Perdão

Meus olhos se fecham
Minha respiração é lenta
Minha boca arde sedenta
E não é água que sacia minha sede
Minhas pernas, tão pesadas
Minhas mãos num profundo suspiro
Meu corpo frio mal pode reagir
E uma lágrima corre para o chão
Não ... até meu abraço
Corre livre e absoluta
Como louca bailarina
Num rumo inconsciente
Ah! Meus pés se agitam
Desejosos de ação
Cheios de inveja
Da gota que louca corre
Minhas idéias não têm lógica
Meu raciocínio parado
E em minha frente, imagens
De um tempo feliz
Em que vivia solto na vida
Em que vivia em paz
E todo feito de euforia
Agitado como ventania
Que sopra pra todo lado
E derruba tudo que se encontra intacto
Vários estragos
Mas muita animação
Ventania ...
E andava por entre a areia da praia
Arrastando os pés e os sonhos
O mar ...
As ondas indo e vindo
Debatendo-se contra as pedras
E rindo, felizes ...
E agitadas como a ventania ...
... Sonhos ...
Voando como um raio
Cortando o céu em mil pedaços
Dançando leve por entre as nuvens
Tocando leve as luzes mais coloridas
... Minhas pernas ...
Deslizando feito água cristalina
Festejando com faíscas e estrondos
Até mesmo pequenos flocos brancos
Que enchiam minhas mãos diversas vezes
... Suspiros ... Saciam minha sede ...
Ah! Tudo era tão lindo
Tão cheio de vida
... Sonhos ...
Sim, sonhos !
Por entre uma vida corrida
Agitada como ventania
Como mar, céus, águas ...
Vida de negócios, planos diversos
Projetos miraculosos e preocupações
Tantos contratos, papéis e vitórias
Subindo espantosamente pela escada do sucesso
“Minha vida ?
Fica pra depois
Depois e além do topo
De onde eu possa ver tudo de cima
Altivo, sublime e dono de tudo
Dono da verdade, da vida e do destino
E vou então encher-me de felicidade
De coisas que forem de meu agrado
E tirar todo sofrimento e dor que possa ter
Todas as pessoas que me fizerem entristecer
Distante do passado e dum futuro cortante”
... Raios ...
“Mas vai valer à pena
Todo este esforço e esta luta
Vão ser recompensados neste dia
E tudo que fiz vai valer à pena
E vai ficar pra trás
Todo meu esforço e minha luta
Todo o desespero que senti
E meus medos, meus pesadelos”
... Sonhos ...
“Realizar meus sonhos
E sentir-me total seguro
Até chegar o dia ...”
Ah ! Mas que besteira
Toda batalha foi em vão
Agora arde a flecha
Em meu peito tão sofrida
Ardente também é meu aroma
Amargo e seco vai caindo
E se quebrando pela escada
Sucesso ...
As imagens se confundem
Minha infância vem à tona
Minha família, minha mãe
Mãe ...
Sempre me disse tanto
Mas nada do que falou ouvi
Pega-pega ... cabra-cega ...
Um mundo cruel te espera
Esteja preparado contra a frieza das pessoas
Contra a dureza da vida
Arme-se contra eles
Bombas, foguetes, canhões
Naves ... de brinquedo ...
Sonhos ... Brincadeira ...
Ventania ... de alegria e riso
Amor ... Filho !
Alegria ... amor ... ventania ...
Por toda a minha vida
Esqueci o que me disse
E não me lembro
Filho ... querido ...
Esperança ... ventania ... frio ...
Meu corpo ... minha vida ...
Sonhos ... pesadelos ... medo ...
Amor ... o mar ... mãe ...
Esqueci o que me disse
Quero lembrar
Preciso lembrar, saber
Corre-corre ... vida corrida ...
Não se esqueça, filho
Não vou esquecer
Não posso ... não consigo lembrar ...
Mãe ... medo ... ventania ...
As imagens estão desaparecendo
As idéias estão sumindo
Pesadelo ... medo ... mãe !
Escuro ... frio ...
Indo ... ondas ... vindo ...
Sonhos ... ajuda ... filho ... mãe ... ajuda ... ajuda ...
Pensamento voando raio
Cortando céu, nuvem, sonho
Mãe ... medo ...
Voando rápido, rápido demais
Ajuda ... desespero ... luta ... recompensa ...
Rápido demais ! ... chegar o dia ...
Voando tanto pelo céu
E se estraçalha no mais profundo oceano
Sonhos ... pesadelos ... luta ... passado ...
Num profundo suspiro
Por toda a eternidade
Estraçalhado.
Suspiros ... pequenos flocos braços ...
Uma lágrima corre bailarina ... areia ... sede ...
Filho ... vida corrida ... sucesso ...
Vida corrida ... vida !
Filho, viva !
Amor ... alegria ... ventania ...
Viva sua vida ! ... filho ...
Mãe ... tristeza ... agora lembro ...
Vida ... viva ... filho ... vida !
Mãe ...
Agora não ...
É tarde ...
Demais, ...
É ?! ...
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Talvez Felicidade II (poesia interrompida)

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Talvez Felicidade II
Talvez minto
Mas talvez a paz que sinto
A vontade de esquecer que existo
E que existe um mundo a me cercar
Talvez te ver
A agitação em meu ser
Se fazendo e me fazendo renascer
E teu vulto a se aproximar
Talvez a meiguice em teu olhar
A magia que reside em teu sorriso
Que eu não resisto
Talvez o que me diz
Ouvir me faz feliz
E me faz aprender
Talvez o que pode me ensinar
As idéias que tenta me mostrar
Os ideais que podemos viver
Talvez o teu problema
Talvez o meu dilema
Talvez apenas solidão
Talvez ilusão
Ou talvez uma verdade
Que me traz felicidade
Uma vontade em confusão
Que não se faz confissão
Que talvez você saiba
Talvez já soubesse
Talvez tua malícia
Tua carícia
Tua maldade
Talvez seja meu carma
Talvez não seja nada
Ou tudo
Talvez excitante aventura
Um instante, uma loucura
Talvez carência
Ou contradição
Talvez influência
Talvez doença
Talvez compaixão
Talvez seja alguma ajuda
Talvez minha, talvez tua
Talvez ingenuidade
Talvez crueldade
Talvez sinal ou lembrança
Talvez seja meu presságio
Ou então uma mudança
Talvez seja sonho
Talvez meu pesadelo
Talvez desejo
Talvez apenas um beijo
Talvez uma brincadeira
Uma percepção
Uma razão desconhecida
Um acaso louco da vida
Ou ato incontestável do destino
Uma falsa impressão
Talvez uma estranha visão
Talvez uma prova
Um gosto variado
Talvez uma evolução
Talvez um caminho atordoado
Talvez um delírio
Um brilho do coração
Talvez uma dança
Talvez a voz, a melodia
Uma constante canção
Talvez minha alma gêmea
Meu ausente pedaço
Talvez inconsciente
Talvez
...
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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Opostos ou Complementares ou Talvez Felicidade (poesia)

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Opostos ou
Complementares ou
Talvez Felicidade:

Talvez desatento do mundo
Ou desalento profundo
Talvez tormento e pranto
O sofrimento de um santo
Talvez imundo e talvez tanto
E talvez nasce verdade
Talvez ferido minto
Ou perdido cada vez sinto
Talvez mesmo escondido existo
E caído ainda resisto
Talvez tinto e talvez insisto
E talvez nasce realidade
Talvez magia do destino
Ou já conhecia seu tino
Talvez seja fantasia e mimo
Ou talvez azia e limo
Talvez felino e talvez íntimo
Ou talvez nasce maldade
Talvez o querer em teu sorriso de lírio
O prazer que me dá teu riso
Talvez um saber propício e martírio
Ou ver de leve um indício
Talvez o que preciso, vitalício
Talvez nasce individualidade
Talvez a nuança do universo de um passo
Ou a herança do seu inverso
Talvez a lembrança de um travesso traço
A esperança de seu avesso
Talvez submerso, talvez amanheço
Ou talvez nasce unidade
Talvez no mirante o naufrágio de um dilema
Um alucinante presságio
Excitante viagem ao problema
Pedante passagem
Talvez poema ou miragem
Talvez nasce luminosidade
Sonata latente
Serenata insolente
Talvez arma, talvez carma aparente
Talvez nasce racionalidade
Medo variado
Cedo amaldiçoado
Talvez soneto, talvez preto e pesado
Talvez nasce moralidade
Desejo em total demência
Beijo e inconsciência
Talvez meigo, talvez leigo e carência
Talvez nasce humildade
Talvez doença, malícia ou astúcia
Talvez a recompensa: carícia de pelúcia
Talvez nasce sanidade
Sua loucura aguda
Aventura muda e crua
Ajuda nua e pura
Talvez nasce seriedade
Ou talvez brincadeira rouca
De qualquer maneira louca
Inteira em tua boca
E talvez nasce salubridade
Numa narcose de prosa e de gozo
Uma psicose deliciosa
Efeito de glicose precioso
E nasce talvez falsidade
E talvez me diz, feliz
Algum sinal
E talvez se faz paz
Longe de todo mal
Talvez eu quis bis
Dessa dose fatal
E talvez no cais jaz
A neurose final
E que talvez Liz me traz
Felicidade ...
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Destruição (poesia-música)

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Destruição ...

... Olhe, por toda parte
Não há mais nada pra se ver
E se sentir

Pedaços por todo lado
Cadáver podre no chão
Aroma doce e amaldiçoado
Penetrando e rompendo a razão
Solidão corre livre e louca
Por entre panos e mãos
E um futuro sabor na boca
Desespero e esvair
Do coração ...

Com toda a calma chegando
Sonhos e desejos matando
Coragem e agora saciando
Passado não importa para mim
Só queria ficar assim
Mas não ...

Explodindo e se levando
E lavando alma e mente
Sacudindo e esmagando
E deixando o céu dormente
E a noite escura é quente
E oculta o que se sente
Agitando brusco e vulcão
E restando apenas
Ilusão ...

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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

O que eu quero ... (poesia)

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Quero a lua cheia
Neste pano azul sombrio
Quero ser sereia
Causar paixão e calafrio
Encantar e criar medos
Desvendar sonhos e segredos
Provocar as mais intensas emoções
Cantar as mais lindas canções
Viver as mais loucas sensações
Nesta noite calada
Quero ser amada
Sem direção nem freio
Ser seduzida e acariciada
Ser totalmente desejada
Sem restrição ou receio
Ser querida, beijada
Sentir-me nua e esgotada
Pelo amor que tanto anseio
Quero ser a lua cheia
Neste pano tão anil
Quero ser sereia
Ser feroz e ser gentil
Quero mais é ser tomada
Levemente tocada
Por seu olhar infantil
E curioso
Quero ser pressionada
Insanamente usada
Por seu desejo febril
E tão gostoso
Quero ver a lua cheia
Ofuscando teu sorriso
Quero ser sua sereia
Ganhar tudo o que preciso
Sua fome voraz
Que sei que sou capaz
De exaurir
Saciar minha sede louca
No doce de tua boca
Vital elixir
Quero que a lua cheia
Neste pano tão corado
Faça minha alegria
Te dê toda a energia
Findar o fogo endiabrado
Acabar com a euforia
Com a água que eu queria
Ter o sentido abrandado
Quero perder-me em teu abraço
Prender-me em teu corpo, em teu braço
E sob teu corpo estremecer
Quero desfazer-me de botão e laço
Perder o medo e o ... desembaraço
E gritar de prazer
Quero ter você
Quero sentir você
E sentir a lua
Quero ver você
Quero ver-me tua
E passar a noite inteira
Delirando e gemendo
Gozando e querendo
Mais e mais e mais
E passar a vida inteira
Deslizando e tremendo
Relaxando e sofrendo
Por debaixo de seu peso
Me acabando
E se acabando de desejo
E trocando a luz
Pelo breu que nos seduz
E que almejo
A escuridão que me induz
Que me agarra e me conduz
Ao paraíso
Dê-me tudo o que eu preciso
Pra viver
Sem me matar
Me enlouquecer
E devanear
Pela noite adentro
Sobre o vestígio do luar
Quero ser sua força
Quero ser sua ousadia
E tudo o que eu gostaria
Sei que posso ser
Se realmente quiser
Realmente aceitar
Em seu mundo entrar
E tornar-me rainha
De tua emoção
Quero ser teu pesadelo
De loucura e de tesão
Ser tua ventania
Teu mar revolto e sem calma
Quero ser tua mania
Teu vício do corpo e da alma
Do fim ao início
Quero estar em você
Nesta aventura alva
De lua cheia e mansa
É o que quero fazer
Nesta noite tão criança
E me perder com você
O primeiro passo pr’a dança
Dois alucinados soltos
Pela imensidão do agora
Então vem me fazer feliz
Que a lua nos sorri
E nos implora.
***

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

De se estar só ... (poesia)

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Só na multidão
E ninguém ouve
Alguém canta
Alguém fala
Alguém cala
Alguém morre
Ninguém ouve
Alguém ri
Alguém grita
Alguém chora
Alguém sonha
E ninguém ouve
Alguém pára
Alguém se agita
Alguém segue
Alguém acorda
E ainda ninguém ouve
E ainda todos dormem
Com seus olhos vidrados
Seus sentidos embotados
Suas bocas e suas direções
Suas idéias e suas intenções
Estilhaçadas
Embaçadas
Embaraçadas na mesma teia
No mesmo véu que se alteia
De tempos remotos, de instintos primeiros
Que me espanta, que me retalha
Que me estraçalha, que me encanta
Que me corta ao meio
Me dilacera em mil sóis
Em pedaços, cacos, caos
Mil pensamentos e emoções
Mil reações em detrimento
Recordações em silêncio
Ninguém ouve
Mas ainda alguém ...
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De aumentar a fé num coração tardio ... (carta-poesia)

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Amar você me enche de confiança e paz ... me faz sentir menos sozinha, menos perdida ... é uma luz a amenizar meu caminho ... a diluir minha intrínseca angústia de ser ‘barco embriagado ao mar’ e transmutar minha aflição em afeição ... é verdadeiro bálsamo a acalentar meu coração ... é um prolongamento das minhas alegrias e tranqüilidade, desdobrando-se em rios de felicidade ... é uma motivação, uma força que emerge das recordações, abrange o presente e se expande em um futuro promissor e repleto de dádivas divinas ...
... você me faz querer ser eu ...
... talvez isso seja um novo estágio do Amor, da minha busca espiritual ... e o caminho, por mais doloroso que às vezes pareça estar, é sempre de fé, de vida, de distrações amorosas ... de distrações as mais reais, essenciais e sérias possíveis ...
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De ouvir Deus no coração ... (carta-poesia)

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Não tenho a experiência da convivência, somente a dos amores “platônicos” ... apenas o sentir, o querer bem, o ser feliz ... que pra mim, de certa forma, já basta ... porque é o que mais me importa ... saber-te bem, ainda que distante; merecer-te, muito mais em liberdade; amar-te, com doação e em paz ...
Sabe lá como seria se assim não fosse ... mais ainda do que ser o que tem de ser, da inexorabilidade dos caminhos, o que agora é, tudo o que foi e será já faz muito bem, já é Amor ... pleno ... e presente divino ... nunca estive tão agradecida pela benção de Deus ... é a música divina dançando em minha vida, rodopiando com minh’alma ...
O Amor real, que liberta, incondicional não vem da carência, de necessidades ou interesses alheios ao próprio sentimento de se querer bem e ser feliz ... um não precisar do outro; um não possuir o outro; sem apegos, ciúmes, mágoas, ressentimentos, rancores, invejas; sem controle, repressão, omissão, prejuízo, malefício, perversão ... só gostar um do outro; estar bem um para o outro; ser feliz um pelo outro ...
Que o tempo que passamos juntos nos reconforte e nos seja eterno porto de benção ... o sol brando dos dias esclareça nossas mentes ... e o céu encantado das noites inspire nossos corações ...
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... o tempo ... as palavras ... (carta-poesia)

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... enquanto no meu corpo o desejo sabe ainda que instável que ainda tem muito o que experimentar descobrir conquistar no teu há uma chama ardente por recolher as últimas gotas de prazer neste deserto mundano e eu que achava que a juventude é que era ansiosa desesperada e que o tempo só acalmava pacificava purificava é que das duas três talvez eu já tenha nascido muito velha antiga mesmo ou você é que se renova como mágica ... digamos assim que você é um tanto ávido demais para a minha imortalizada infância não que eu dimensione as expressões por gentileza mas por desejar em vão ajustá-las à exata sensação mesmo sabendo ainda que as palavras são sempre ásperas demais para tantas sutilezas que são voláteis, volúveis deveras são imprecisas inflexíveis e portanto já anteriormente falíveis as palavras são inexoravelmente equivocadas por princípio são deturpadas retorcidas coradas entretanto ainda se exige a comunicação então só restam as palavras tortas e estagnadas e nem tanto pesar pela palavra em si pior é o uso definível que se faz dela ...
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