segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Coletânea 'Ardências 1' ... (poesias)

Corrente

Teus olhos buscam incessantes e ardentes
Prazer sob os tecidos, a timidez e a distância
Mal sabem que o desejo e o tesão latentes
Sobem ensandecidos à tez em discrepância
E por mais que eu prefira me afastar
Não consigo fugir do teu olhar
E sem resistência me entrego à tal procura
Pois tua loucura mais parece pura carência
Que em meu colo se destina a abrandar
Inexorável, como o rio se lança ao mar
***
Climas

Tão irritante ao mesmo que insistente
Teu jeito incoerente a me confundir
Ora tua agressividade a surgir
Repentina e tão inconveniente
Ora a se esvair, aos poucos, brevemente
Quando a sós, num impulso carente,
O intento de ambos a se fundir
A fugir sorrateira a grosseria
A brotar faceira a humildade
A brincar à beira da fantasia
O desejo, o anseio e a vontade
A erigir a teia da euforia
Num beijo alheio à amizade
Somente na veia a cor vazia
Do que vejo no seio da maldade
Tua intenção fugaz se faz latente
Minha intuição vã que jaz patente
E o destino a se findar na realidade
***
Olhares

Teus olhares ávidos e avassaladores
A rodearem rudemente sobre o vulto
A saltarem e a caírem sobre os seios
A brincarem maliciosos em vão culto
Admirando formas num tom grosseiro
Com palavras duras de garoto arteiro
Em momento propício pr’o impulso oculto
O desejo a se expressar de modo incerto
Quanto mais se mostra o corpo perto
E o egoísmo nua e surdamente domina
Como adrenalina crua a transbordar
Hormônios e sentidos a realçar
E o ensejo a se pintar em cor ferina
Simplesmente a explosão do desejo em fúria
Aparente na expressão, num beijo de luxúria
***
Risos

Tua carência aparenta brincadeira
E teu pedido só pode ser gozação
Pedir assim tão bruscamente um beijo
É plantar na mente imensa confusão
Pois teus lábios pedem desejos atendidos
E tuas palavras refutam com precisão
Teu corpo brevemente se faz perdido
Mas de súbito é encoberto por tuas mãos
E a indecisão, que não era pouca, faz-se maior
Por saber-te já pertencido e adorado
E tua intenção a me provocar constantemente
Abala a todo instante o intento abafado
Toda vez que te encontro é a mesma indefinição
E tua visão me aflige ao mesmo em que me acalma
Pois te saber possuído, saber-te em união
É alívio e é tortura a confortar com fúria a alma
***

Razões

Teu convite me parece ilusão
Tua proposta mais parece brincadeira
Porque um jogo tão contraditório
Não pode ser ganho assim tão fácil
E te ter por perto e tão solícito
Tão inconveniente e estranhamente dado
Tão aberto e sem receios ou birras
É por demais insano, duvidoso
Ter tão prontamente o desejo atendido
É quase mágico, meio divino
Se não fosse a eterna dúvida a persistir
O vazio inerente que vejo em você
Talvez a dança avançasse mais um passo
E a ciranda se estreitasse mais um pouco
Mas é teu olhar tão parco
Tão diluído, difuso, opaco
A extinguir de leve a vontade
E a remontar à breve amizade
***

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