sábado, 7 de abril de 2007

... aprendendo a ser amada ... (trecho de Clarice Lispector)

... enquanto o 'iorgut' não vem ...

" (...) 'Você é uma menina muito engraçada, você é uma doidinha', dissera ele. Era como um amor.
Não, eu não era engraçada. Sem nem ao menos saber, eu era muito séria. Não, eu não era doidinha, a realidade era meu destino, e era o que em mim doía nos outros. E, por Deus, eu não era um tesouro. Mas se eu antes já havia descoberto em mim todo o ávido veneno com que se nasce e com que se rói a vida - só naquele instante de mel e flores descobria de que modo eu curava: que me amasse, assim eu teria curado quem sofresse de mim. (...) que podia eu fazer ? eu já sabia que eu era inevitável. (...) Ali estava eu, a menina esperta demais, e eis que tudo o que em mim não prestava servia a Deus e aos homens. Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro. (...)
(...) E foi assim que (...) lentamente comecei a aprender a ser amada, suportando o sacrifício de não merecer, apenas para suavizar a dor de quem não ama. (...) "

Clarice Lispector, Travessuras de uma menina (noveleta), em A descoberta do mundo.

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